Parte I
Este conto foi escrito para meu antigo dono.
Cheguei em casa flutuando, nem comi ou
dormir naquela noite estava feliz demais para fazer coisas tão humanas. Pensei
em cada momento, sorri sozinha no meu quarto, deitada na estreita cama de
solteiro com meu abajur ligado. Não sei como ou quando foi que dormir.
No dia seguinte acordei tarde, era um
domingo nublado com rápidas garoas passageiras e com pouco sol, minha preguiça
estava ao extremo mas me sentia bem como mulher. Levantei, caminhei pela casa,
àquela hora minha mãe já havia saído, provavelmente para casa de minha avó.
Como uma menina boba voltei a sorri
distraída, pensei em meu dono e não resistir em ligar. Peguei o celular e
disquei o número que ele havia me ligado. Chamou uma, duas, na terceira ele
atendeu.
- Bom dia Laura! – ele murmurou
parecendo bem humorado.
- Bom dia Sr., er... eu pensei, está aqui ainda?
– tropecei nas palavras.
- Sim estou, irei embora pela
madrugada!
- O que quer fazer esta tarde? –
percebi que nesse momento ele parou para pensar um pouco.
- Vamos andar pela sua cidade, já
almoçou?
- Não, acabei de acordar.
- Pois bem, venha almoçar comigo, tens
30 minutos para aparecer aqui no hotel – antes que eu pudesse disser sim
senhor, ele já havia desligado.
Novamente outro conflito entre eu e meu
guarda-roupa. Abrir o guarda-roupa encarei minhas roupas, não havia muito
tempo, desistir da briga e corri para o banheiro, tomei um rápido banho, vesti
um sutiã branco de renda com detalhes amarelos e uma calcinha preta, uma vez
que eu não tinha outros lingeries.
Roupa, eu tinha que pensar rápido ou
não daria tempo de fazer a maquiagem, optei por um short laranja de cos alto e
um cropped preto, uma rasteira, passei creme nos cabelos molhados, fiz uma
maquiagem básica o mais próximo do natural e sai correndo com os brincos e um
crucifixo na mão.
Cheguei 3 minutos atrasada, quando
cheguei ele já estava sentado numa das mesas do restaurante do hotel, junto
dele havia uma moça da cidade, revirei os olhos, provavelmente o assediando,
senti uma pontada de ciúmes e me aproximei da mesa quase correndo.
- Olá Augusto – a ignorei sentando a
mesa, interrompi a conversa deles.
- Oi Laura – pensei dele ficar chateado,
mas sorriu com um bom humor.
- Bom parece que sua companhia chegou,
estou indo – a moça levantou-se da mesa e saiu.
- Tchau Cátia – ela sorriu em sinal de
adeus. Minha cadela interior a atacou, mordeu bem na garganta para acabar com o
mau pela raiz.
Ela não desistiria, ahh não, fiquei
imaginando o que seria de mim se meu dono resolvesse namorar uma dessas
mulheres da minha cidade, eu não poderia fazer nada, afinal escolhi ser sua
cadela, mas com certeza eu o deixaria sim, eu o deixaria paras outras, não
importava quem fosse ela, da cidade ou não, não continuaria dano minha
submissão a um homem que conservasse uma relação baunilha e ainda assim
quisesse minha exclusividade.
Do nada fiquei revoltada, minha
natureza havia trancado, sentir uma raiva imensurável. Eu estava tão feliz,
porque sempre algo desse tipo acontece comigo, será que eu desistia das pessoas
rápido demais?
- No que está pensando? – meus
pensamentos foram interrompidos por ele, e como uma menina birrenta, respondi
mal humorada.
- Nada...
- Você chegou atrasada...
- Desculpe – respondi seca.
- Vou lhe dar umas cintadas para
aprender a chegar no horário. – ele murmurou.
Confesso que não dei muita importância,
apanharia quantas vezes fosse possível desde que ele estivesse ao meu lado, e
gostasse mais de mim do que das outras, pois no dia que me sentisse abandonada
e eu chorasse por isso, eu seria novamente uma cadela de rua. Creio que meus
olhos lacrimejaram na hora, não sei se ele percebeu.
- Sim Sr. – responde de cabeça baixa.
Logo o garçom se aproximou pondo uma bandeja
com filés de frango com molho de tomate e purê de batatas sobre a mesa junto
com pratos e talheres. Fitei a comida com desgosto, lembrando do aniversário de
uma amiga, Augusto colocou um filé no seu prato e outro no meu, pelo seu rosto
também não gostava da aparência, não pude conter o riso.
Comemos tranquilamente trocando poucas
palavras. Ao terminarmos saímos do hotel andando calmamente sob o falso sol de
inverno. Augusto vestia uma camisa branca, bermuda jeans e uma sandália
rasteira.
- Aqui é bastante quente!
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